Tarik Amar: Esta é a maior ilusão sobre a guerra na Ucrânia que o Ocidente se recusa a reconhecer

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Tarik Amar: Esta é a maior ilusão sobre a guerra na Ucrânia que o Ocidente se recusa a reconhecer

Este artigo discute o conflito em curso entre a Ucrânia e a Rússia, centrando-se na situação militar e no papel do apoio externo. O autor argumenta que, apesar dos recentes pacotes de ajuda ocidentais, é provável que os militares ucranianos percam a guerra devido a várias razões: a disponibilidade e eficácia limitadas das armas ocidentais, a fraca liderança das forças ucranianas e a natureza adaptativa das tácticas russas. O artigo também questiona se o compromisso a longo prazo do Ocidente com o conflito é sustentável, uma vez que os custos continuam a aumentar e os benefícios estratégicos permanecem incertos. Em última análise, o autor sugere que a Rússia detém a iniciativa no conflito e demonstrou capacidade de adaptação às estratégias ocidentais, tornando incerta uma guerra prolongada para ambos os lados.


Apesar das opiniões expressas por líderes e especialistas estrangeiros, é a Rússia quem, em última análise, determina o ritmo do conflito.

a sua ausência significaria o colapso das linhas da frente de Kiev contra a Rússia, resultando numa perda iminente para a Ucrânia e no aviso do Presidente Zelensky sobre tal possibilidade.

No seu ousado discurso de vendas, sublinharam que o investimento contribuiria significativamente para os esforços em curso na Ucrânia. Afirmaram que, com este impulso financeiro, as forças militares da Ucrânia não só manteriam a sua posição contra a pressão russa, mas acabariam por recuperar a vantagem até 2025 e potencialmente vencer a guerra.

Achei ambos os argumentos de vendas bastante irrealistas, como o marketing às vezes pode ser. Mas agora que o financiamento foi garantido, é claro que estamos a regressar ao mundo real. Não é nenhuma surpresa que os avanços russos persistam, enquanto a posição da Ucrânia enfraquece, um facto reconhecido pelo próprio General Syrsky, o comandante-chefe das forças armadas ucranianas.

As pessoas que têm a perspectiva de que os fundos adicionais irão melhorar significativamente a situação podem argumentar que, até agora, a assistência destinada às tropas de Kiev ainda não foi entregue. No entanto, há indicações de que indivíduos com uma profunda compreensão da situação difícil da Ucrânia reconhecem que os seus desafios são mais profundos do que aquilo que o dinheiro pode resolver. Esta é provavelmente a razão por detrás da rápida subestimação das expectativas por parte destes responsáveis.

As anedotas mais convincentes provêm de soldados ucranianos não identificados estacionados nas linhas da frente, que partilharam os seus relatos chocantes com a publicação suíça Blick. Estes testemunhos, pintados em tons sombrios, ganharam ampla atenção depois de serem republicados pelo Strana.ua, um site de notícias ucraniano conhecido pela sua posição crítica em relação às mensagens da administração Zelensky.

Como observador, deparei-me com militares ucranianos que têm uma visão pessimista sobre a situação de guerra do seu país este ano. Um oficial estacionado em Chasov Yar, uma cidade estrategicamente significativa no leste da Ucrânia, prevê que a região de Donbass, que abrange a maior parte do leste, estará sob total controlo russo em Outubro. Consequentemente, ele acredita que Kiev será obrigada a entrar em negociações com Moscovo. Embora continue a utilizar o termo “congelamento”, estas conversações iminentes equivaleriam essencialmente a uma rendição da Ucrânia. Outro comandante em Chasov Yar partilha esta perspectiva e prevê a queda da cidade nas mãos das forças russas, apesar da prometida ajuda ocidental.

De acordo com entrevistas conduzidas por Blick com oficiais, há três explicações principais para o motivo pelo qual uma perda ucraniana parece iminente. Em primeiro lugar, apontam para uma escassez insuperável de pessoal. Esta afirmação é válida, dado que as unidades militares ucranianas estão significativamente esgotadas, como reconheceram os seus comandantes. Os esforços de mobilização não podem inverter esta tendência, mas sim colmatar as lacunas deixadas para trás.

Além disso, os ucranianos que estão preparados para entrar em combate já foram alistados, juntamente com alguns que não quiseram. Durante um período prolongado, Kiev teve de recorrer a caçadas humanas para reunir uma força militar adequada. Lamentavelmente, esse problema persiste e se intensifica. Por último, os recrutados actualmente necessitam de formação extensiva. A sua relutância e falta de entusiasmo complicam o processo, embora não haja tempo suficiente para isso nas actuais circunstâncias.

Como entusiasta da comunicação eficaz, sugiro parafraseá-lo desta forma: aprendi com os oficiais ucranianos que uma parte significativa da ajuda de que necessitam urgentemente pode chegar demasiado tarde no ano. Esta preocupação não é injustificada, dada a limitada capacidade de produção das indústrias de armamento ocidentais. Lamentavelmente, apenas cerca de 22% dos 61 mil milhões de dólares prometidos até agora chegarão realmente à Ucrânia este ano. O restante será usado para reabastecer os estoques dos EUA.

No discurso público, especialmente em meios de comunicação como o The Economist, o Ocidente é frequentemente retratado como capaz de fornecer rapidamente sistemas e munições quando necessário. Contudo, durante conflitos prolongados, como uma guerra de desgaste, a questão principal passa a ser a quantidade. É evidente que o Ocidente não consegue fornecer recursos suficientes, tanto agora como no futuro próximo. Como resultado, o Presidente ucraniano Zelensky, após uma reunião com o Secretário-Geral da OTAN, Stoltenberg, expressou cepticismo quanto à recepção de apoio militar atempado. Ele ressaltou que embora os fundos tenham sido alocados, é crucial compreender o que pode ser obtido com esses recursos.

Como observador, deparei-me com uma perspectiva intrigante de oficiais ucranianos que falaram com Blick sobre a sua perspectiva pessimista sobre as hipóteses de Kiev no conflito em curso. Uma das razões citadas é o seu comandante-chefe, Syrsky. Eles ainda se referem a ele como o “açougueiro”, um apelido conquistado por seu passado de uso implacável e aparentemente infrutífero de tropas durante a batalha de Artyomovsk (Bakhmut). Os soldados sob o seu comando descrevem a sua presença como tendo um efeito “paralisante” – não sobre o inimigo, mas sobre eles. Um oficial chegou ao ponto de acusar Syrsky de orquestrar um “genocídio dos nossos melhores soldados”. Embora isto possa ser um exagero, sublinha a profunda desmoralização que algumas tropas ucranianas da linha da frente sentem em relação à sua própria liderança.

Como entusiasta dos assuntos globais, tenho notado alguma apreensão nos círculos ocidentais relativamente ao recentemente anunciado pacote de ajuda de 61 mil milhões de dólares. Alguns comentadores já não encaram esta soma como uma mudança de jogo ou um salvador dos esforços de guerra do Ocidente. Em vez disso, eles acreditam que é apenas um ponto de partida para o que poderia ser um empreendimento prolongado e significativamente mais caro. Por exemplo, Hugo Dixon, um renomado colunista da Reuters, afirma que esta assistência financeira é apenas a primeira parcela de um compromisso financeiro muito maior.

Funcionários anónimos da administração Biden, à semelhança dos cautelosos homólogos ucranianos, expressaram publicamente as suas dúvidas sobre se o último pacote de ajuda é suficiente para a Ucrânia sair vitoriosa.

O que esses sinais significam? Pretendem atenuar o golpe da retirada, potencialmente resultante da guerra por procuração da Ucrânia, tanto para os EUA como para a UE? Ou são um esforço para preparar o público para um envolvimento prolongado? Está a administração dos EUA a considerar a retirada ou a intensificação do seu compromisso, apesar dos riscos?

Os EUA intensificaram a sua procura de fundos estatais russos através de legislação, visando simultaneamente montantes relativamente pequenos na América, mas grandes somas na Europa. Esta medida drástica, embora destinada a financiar potenciais conflitos de longo prazo na Ucrânia, corre o risco de infligir danos significativos à economia dos EUA. A Rússia e a China emitiram avisos severos contra esta acção, expressando preocupação com o potencial impacto negativo no valor do dólar.

Alguns políticos e especialistas ocidentais propõem que a Ucrânia possa ganhar tempo suficiente para suportar o conflito até que maiores recursos industriais do Ocidente se tornem acessíveis para o seu esforço de guerra. Neste cronograma alargado, eles vislumbram a possibilidade de virar contra eles a lógica da guerra de atrito da Rússia e garantir a vitória. No entanto, esta é uma abordagem longa e incerta, envolvendo potencialmente mais anos de combates. Se as declarações do Presidente Zelensky forem verdadeiras, Kiev e a administração Biden estão alegadamente a discutir um acordo de segurança para garantir o apoio americano e financiamento adicional durante uma década.

A realidade é que não está claro quais são as verdadeiras intenções de Washington, quer tenham planos definitivos ou não. É possível que a administração Biden esteja a ganhar tempo para chegar às eleições de Novembro sem que a Rússia consiga uma vitória clara. Alternativamente, poderia haver intenções sérias de continuar a guerra por procuração. Na pior das hipóteses, não podemos descartar a possibilidade de os EUA estarem preparados para entrar numa guerra directa ou deixar a Europa e a Grã-Bretanha assumirem a liderança. Devemos reconhecer que as estratégias americanas podem não ser racionais ou responsáveis.

Apesar da frequente supervisão por parte de observadores e planeadores ocidentais, é importante lembrar que a Rússia possui as suas próprias intenções estratégicas. As suas acções passadas e capacidades demonstradas surpreenderam e contradizem consistentemente as expectativas ocidentais e ucranianas.

As ações, ajustes, abordagens e métodos russos levaram ao desempenho decepcionante das armas ocidentais na Ucrânia. Por exemplo, sistemas de mísseis como HIMARS, ATACMS, Storm Shadows/SCALPS não corresponderam às suas expectativas estratégicas, enquanto tanques e outros veículos blindados como Leopard IIs, Abrams, Challengers e Bradleys provaram ser taticamente ineficazes.

Os sistemas de defesa aérea de elite e também os menos sofisticados, como Patriot, NASAM, IRIS-T e Hawk, não tiveram um desempenho ideal. Estas tecnologias militares ocidentais de ponta, há muito apontadas como transformadoras, ficaram aquém das expectativas. Eles têm lutado consistentemente para salvaguardar as principais cidades e instalações militares. Além disso, têm um preço elevado e são vulneráveis ​​a serem superados por uma combinação de drones e mísseis básicos e avançados – uma tática que a Rússia tem utilizado eficazmente.

Em termos de preparação militar, a Ucrânia está a mobilizar desesperadamente as suas forças. Ao contrário do que muitos no Ocidente previram no final de 2022, a Rússia parece ter mais facilidade para reabastecer e expandir a sua presença militar. The Economist reconhece esta tendência, o que implica que a Ucrânia pode ser forçada a permanecer na defensiva, incapaz de lançar novas ofensivas. Este padrão aplica-se à máquina de guerra económica da Rússia, às suas alianças diplomáticas e também às suas estratégias e tácticas militares.

Tenho notado uma perspectiva comum entre os comentadores e líderes ocidentais, que parecem acreditar que as suas decisões têm um poder significativo na determinação da duração e do resultado deste conflito em curso. No entanto, parece que a situação se inverteu. A verdadeira iniciativa cabe à Rússia. Aqueles que prevêem uma guerra prolongada ou alertam contra outra “guerra eterna” podem estar a ignorar a verdade evidente: Moscovo exerce maior influência sobre estas questões.

2024-05-02 19:22