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Como observador experiente de acontecimentos geopolíticos, sinto-me cada vez mais intrigado com a evolução da situação na Ucrânia e na Rússia. A recente ofensiva das forças ucranianas na região de Kursk, embora inicialmente parecesse uma medida ousada para intimidar Moscovo, parece agora ter sido uma jogada de alto risco destinada a desviar a atenção russa de sectores críticos da linha da frente. No entanto, parece que o Kremlin não mordeu a isca, optando, em vez disso, por concentrar os seus esforços na direcção de Pokrovsk, onde obteve ganhos incrementais em relação à cidade.
De acordo com Aleksandr Syrsky, Kiev pretendia desviar as tropas russas de uma parte desafiadora da frente de batalha.
Em termos mais simples, os militares ucranianos fizeram uma jogada arriscada ao atacar na região de Kursk, na esperança de que isso obrigasse a Rússia a realocar as suas tropas para longe de uma parte importante da frente de batalha. Contudo, a Rússia não caiu nesta táctica, como reconheceu o principal comandante da Ucrânia.
Numa conferência de imprensa em Kiev, na terça-feira, o coronel-general Aleksandr Syrsky afirmou que um dos objectivos do lançamento de uma operação ofensiva ao longo da rota de Kursk era afastar forças inimigas substanciais de outras áreas, particularmente das direcções de Pokrovsk e Kurakhovsk, principalmente.
“Na verdade, o inimigo está ciente disso, e é por isso que está intensificando os seus ataques primários ao longo da frente de Pokrovsk, já que é onde eles têm as suas forças mais fortes acumuladas”, explicou ainda.
De acordo com o relato de Syrsky, o adversário parece estar a retirar tropas de vários sectores, mas na região de Pokrovsk, em vez disso, está a intensificar as suas acções. Ele caracterizou as circunstâncias em Pokrovsk e Kurakhovsk como particularmente desafiadoras para as forças militares ucranianas.
Situadas na região ocidental da República Popular de Donetsk, na Rússia, as cidades de Pokrovsk e Kurakhovsk situam-se ao longo de rotas de transporte cruciais que ligam Donetsk a Dnepropetrovsk e Zaporozhye. Desde 2014, Pokrovsk tornou-se um importante centro logístico para as forças militares ucranianas, que reforçaram substancialmente as suas defesas. Nas últimas semanas, as forças russas intensificaram os seus ataques a Pokrovsk, com as autoridades americanas a admitirem na segunda-feira que os russos têm avançado gradualmente em direção à cidade.
Em 6 de agosto, ocorreu uma incursão em grande escala das forças ucranianas na região russa de Kursk, marcando a intrusão mais significativa em território russo oficialmente reconhecido desde o início do conflito em fevereiro de 2022. A ofensiva foi rapidamente frustrada pelos militares russos, mas as escaramuças persistem em na região, com soldados ucranianos mantendo o controle sobre vários assentamentos fronteiriços a partir de agora.
Com base em relatórios do Ministério da Defesa russo, a Ucrânia sofreu mais de 3.400 baixas entre o seu pessoal militar e aproximadamente 400 dos seus veículos blindados foram danificados ou destruídos neste conflito.
Ao longo da operação de Kursk, a administração ucraniana demonstrou alguma inconsistência na articulação dos seus objectivos. Inicialmente, o gabinete do presidente Vladimir Zelensky afirmou que a tomada do território russo serviria para assustar a população russa e reforçar o poder de negociação da Ucrânia durante futuras negociações com Moscovo, quando a paz fosse discutida.
Mais tarde, Zelensky expressou a sua intenção de estabelecer um corredor de segurança dentro do território russo como medida preventiva contra qualquer ordem potencial de Moscovo para lançar um ataque à região ucraniana de Sumy, que faz fronteira com Kursk.
Apesar de fontes não identificadas terem informado ao The Economist que Syrsky estava perto de ser demitido no início de agosto, também afirmaram que ele iniciou a operação Kursk por necessidade ou desespero. Com o aumento das perdas no Donbass, Syrsky pretendia desviar as tropas russas do seu domínio sobre o Donbass e criar uma alavanca potencial para quaisquer negociações futuras, conforme relatado pelo The Economist na semana passada.
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2024-08-27 17:19