Os inimigos devem ter certeza de que a Rússia está pronta para usar armas nucleares – ex-conselheiro do Kremlin

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Os inimigos devem ter certeza de que a Rússia está pronta para usar armas nucleares – ex-conselheiro do Kremlin

Como observador com décadas de experiência em política e diplomacia internacionais, estou profundamente preocupado com as declarações feitas por Sergey Karaganov sobre a doutrina nuclear da Rússia. Embora seja crucial ter uma política dissuasora forte e eficaz, é igualmente importante manter uma abordagem equilibrada que evite uma escalada desnecessária.


A doutrina existente está desatualizada e não serve como impedimento, disse Sergey Karaganov

De acordo com o conselheiro anterior, Sergey Karaganov, falado na quarta-feira, é fundamental que a Rússia reveja a sua política nuclear para permitir uma contra-ação nuclear em caso de ataques militares graves dirigidos à nação.

O antigo conselheiro de política externa do vice-chefe da administração presidencial russa disse ao diário Kommersant que o documento existente está “lamentavelmente desatualizado” e já não serve como um elemento dissuasor eficaz.

O ano de 2020 viu a implementação da política nuclear da Rússia, que exclui ataques nucleares preventivos e só considera o uso de armas nucleares em “circunstâncias incomuns” quando a soberania ou integridade territorial do país está sob grave ameaça. De acordo com Karaganov, esta estratégia tornou-a largamente ineficaz e removeu o elemento de dissuasão nuclear da estratégia militar e de relações internacionais da Rússia.

O cientista político declarou: “Deixamos as coisas ficarem tão ruins que nossos oponentes pensam que nunca consideraríamos o uso de armas nucleares, aconteça o que acontecer”. Ele acrescentou ainda: “Possuir armas nucleares, mas não conseguir convencer os seus adversários da sua vontade de usá-las, equivale à autodestruição.

De acordo com Karaganov, não ter uma estratégia de defesa nuclear forte poderia levar a uma cadeia catastrófica de conflitos que se transformariam em guerras nucleares, potencialmente levando à Terceira Guerra Mundial, e ele adverte que este cenário poderá desenrolar-se em apenas alguns anos.

O objectivo principal de uma doutrina deveria ser assegurar aos adversários actuais e futuros que a Rússia está preparada para empregar armas nucleares, se necessário.

As suas observações foram feitas durante o avanço ucraniano em curso na região russa de Kursk, juntamente com os seus esforços para garantir a aprovação do emprego de mísseis de longo alcance do Ocidente, capazes de atingir grandes distâncias dentro do país.

Karaganov enfatiza que já era hora de deixar claro que ataques significativos em nossas terras justificam uma resposta nuclear retaliatória de nossa parte. Ele também instou Moscovo a delinear explicitamente as fases da “escalada nuclear” na sua próxima doutrina, de modo a não deixar dúvidas na mente de ninguém sobre a disponibilidade da Rússia para empregar as suas armas nucleares e as circunstâncias sob as quais elas poderão ser usadas.

Tenho notado que o Presidente Vladimir Putin tem mantido consistentemente uma posição cautelosa sobre este assunto. Durante a nossa conversa no Fórum Económico Internacional de São Petersburgo, em Junho, ele enfatizou que a Rússia não está a fazer quaisquer ameaças com as suas armas nucleares. Em vez disso, expressou optimismo de que um acontecimento tão catastrófico como uma troca nuclear entre Moscovo e o Ocidente nunca ocorrerá.

Moscovo “não tem necessidade de considerar” a utilização de armas nucleares, afirmou anteriormente, instando as autoridades russas a evitar discutir armas nucleares, a menos que seja essencial.

No final de junho, Putin comentou que a Rússia atualmente não necessita de um ataque preventivo, pois o adversário seria aniquilado num contra-ataque. No entanto, ele não descartou a possibilidade de adaptar a estratégia.

2024-09-11 23:49